O descobrimento do Brasil: eu vi! Na próxima semana, chega às livrarias o meu
Em tempo: Leonardo, que aparece abaixo, é o doutor Leonardo Ramos, psiquiatra e psicanalista com quem fiz as sessões.
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Anhangá – Eu havia saído antes do sol com meu irmão Anhangué e meu primo Ibirapu para ir até as mandiocas. As mulheres queriam fazer farinha. Fomos pelo caminho da praia. Estava um dia muito bonito, o sol forte. Um vento bom.
Leonardo – Como vocês estavam vestidos?
Anhangá – Como sempre. Nada no corpo. Só pintura. Nus.
Leonardo – Como você se pintavam?
Anhangá – Com urutum vermelho. A gente tirava da semente da planta. Bom para proteger do sol e da picada de insetos e mosquitos. Me deixa continuar.
Estou vendo a cena muito bem. O sol já estava quase que inteiro sobre as nossas cabeças, quando eu olhei para o mar e vi. Vi aquilo.
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Anhangá – Anhangué, olha aquilo!
Ibirapu – O que é aquilo?
Anhangué – Que canoa grande, irmão!
Anhangá – São muitas. Mais de duas mãos inteiras.
Ibirapu – Duas mãos e mais um dedo!
Anhangá – De onde é que saiu isso? Será que é coisa que vem de dentro do mar? Coisa do mau espírito?
Ibirapu – Vamos fugir daqui! Vamos buscar mais gente.
Anhangá – Calma! Estou achando que está para acontecer alguma coisa muito importante. Vamos ficar atentos.
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Anhangá – Foi quando uns deles vieram numa canoa pequena até a praia. A gente se aproximou. E começamos a rir na cara deles. A gente era três, eles eram uns dez na canoa. E a gente rindo deles. Tinha um, o mais engraçado, com jeito de mulher, que ficava o tempo todo rabiscando uns risquinhos num papel. Tudo que a gente fazia, ele fazia risquinhos, desenhinhos. Mas parecia mulherzinha. Os outros, toda hora olhando para ele, diziam:
anotaperovás!
Leonardo – Como?
Anhangá – Anotaperovás.
Leonardo – Ah.... Anota, Pero Vaz.
Anhangá – Isso. E a gente rindo, o Anhangué deitava no chão de tanto rir.
Leonardo – Rir? Do quê?
Anhangá – Dos panos que eles usavam em cima do corpo. Tinham o corpo todo coberto de pano. Aquele sol, eles savam. Brancos. Branco queimado, meio avermelhado. Difuerente. Falavam coisas que a gente não entendia. E como fediam! Que cheiro horrível aqueles homens brancos tinham! Acho que não tomavam banho havia várias luas.
Leonardo – E vocês se comunicaram como?
Anhangá – O homem branco, que parecia ser o chefe, fez sinal com a mão para a gente colocar os arcos e as flechas na areia. A gente olhou um para o outro, homem branco fez cara de homem bom. Sorriu. Senti que eles tinham medo de nós. Eu disfarçava, mas também tinha medo. Pensei nas minhas mulheres, nos filhos... Colocamos os arcos e as flechas na areia. Cada um de nós estava com sete flechas. O homem se aproximou, tirou uma coisa da cabeça e falava "barrete, barrete, barrete" e colocou na cabeça do Ibirapu, que ficou muito engraçado. Começamos a rir dele, os homens brancos também.
Ibirapu começou a dançar e a pular feito um menino. Rimos muito. Todos.
Depois de
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Mal sabia eu, naquele dia, que aquela troca de presentes era o começo da extinção de uma população hoje estimada em mais de 8 milhões de índios.
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A gente ficou com
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Anhangué – Acho que não tem perigo, não. Eles são muitos bobos.
Ibirapu – Sei não. Aquele que fica fazendo rabisquinho me olha de um jeito muito esquisito. E se a gente for até lá e eles levarem a gente embora?
Anhangué – E as mandiocas? Vou acabar apanhando das minhas nove mulheres!
Após análise e estudo iniciamos em sala o primeiro ensaio de como escrever crônica...E os trabalhos abaixo são resultados da primeira fase do nosso projeto.
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