sexta-feira, 19 de outubro de 2007

3º ao 8º Dia do Projeto...

Nesta fase do Projeto os alunos pesquisaram sobre a história da Crônica. Pesquisaram sobre Pero Vaz de Caminha e a Carta ao El rei. Juntamente com o Prof. Moacir de História aprenderam sobre as expansões marítimas e a realidade das viagens naquela época. Assistimos filmes relacionados, estudamos trechos da carta e também esta crônica de Mário Prata, publicada no Estado de São Paulo em 22/04/1998 :

O descobrimento do Brasil: eu vi! Na próxima semana, chega às livrarias o meu novo livro Minhas Vidas Passadas (a limpo), pela Editora Globo, em que conto algumas regressões que fiz. Hoje, mostro para você um trechinho de quando eu fui Anhangá, um índio muito do tropicalista lá da região onde hoje é a Bahia. Estávamos no dia 22 de abril de 1500 e eu era tupi.

Em tempo: Leonardo, que aparece abaixo, é o doutor Leonardo Ramos, psiquiatra e psicanalista com quem fiz as sessões.

*

Anhangá – Eu havia saído antes do sol com meu irmão Anhangué e meu primo Ibirapu para ir até as mandiocas. As mulheres queriam fazer farinha. Fomos pelo caminho da praia. Estava um dia muito bonito, o sol forte. Um vento bom.

Leonardo – Como vocês estavam vestidos?

Anhangá – Como sempre. Nada no corpo. Só pintura. Nus.

Leonardo – Como você se pintavam?

Anhangá – Com urutum vermelho. A gente tirava da semente da planta. Bom para proteger do sol e da picada de insetos e mosquitos. Me deixa continuar.

Estou vendo a cena muito bem. O sol já estava quase que inteiro sobre as nossas cabeças, quando eu olhei para o mar e vi. Vi aquilo.

*

Anhangá – Anhangué, olha aquilo!

Ibirapu – O que é aquilo?

Anhangué – Que canoa grande, irmão!

Anhangá – São muitas. Mais de duas mãos inteiras.

Ibirapu – Duas mãos e mais um dedo!

Anhangá – De onde é que saiu isso? Será que é coisa que vem de dentro do mar? Coisa do mau espírito?

Ibirapu – Vamos fugir daqui! Vamos buscar mais gente.

Anhangá – Calma! Estou achando que está para acontecer alguma coisa muito importante. Vamos ficar atentos.

*

Anhangá – Foi quando uns deles vieram numa canoa pequena até a praia. A gente se aproximou. E começamos a rir na cara deles. A gente era três, eles eram uns dez na canoa. E a gente rindo deles. Tinha um, o mais engraçado, com jeito de mulher, que ficava o tempo todo rabiscando uns risquinhos num papel. Tudo que a gente fazia, ele fazia risquinhos, desenhinhos. Mas parecia mulherzinha. Os outros, toda hora olhando para ele, diziam:

anotaperovás!

Leonardo – Como?

Anhangá – Anotaperovás.

Leonardo – Ah.... Anota, Pero Vaz.

Anhangá – Isso. E a gente rindo, o Anhangué deitava no chão de tanto rir.

Leonardo – Rir? Do quê?

Anhangá – Dos panos que eles usavam em cima do corpo. Tinham o corpo todo coberto de pano. Aquele sol, eles savam. Brancos. Branco queimado, meio avermelhado. Difuerente. Falavam coisas que a gente não entendia. E como fediam! Que cheiro horrível aqueles homens brancos tinham! Acho que não tomavam banho havia várias luas.

Leonardo – E vocês se comunicaram como?

Anhangá – O homem branco, que parecia ser o chefe, fez sinal com a mão para a gente colocar os arcos e as flechas na areia. A gente olhou um para o outro, homem branco fez cara de homem bom. Sorriu. Senti que eles tinham medo de nós. Eu disfarçava, mas também tinha medo. Pensei nas minhas mulheres, nos filhos... Colocamos os arcos e as flechas na areia. Cada um de nós estava com sete flechas. O homem se aproximou, tirou uma coisa da cabeça e falava "barrete, barrete, barrete" e colocou na cabeça do Ibirapu, que ficou muito engraçado. Começamos a rir dele, os homens brancos também.

Ibirapu começou a dançar e a pular feito um menino. Rimos muito. Todos.

Depois de dar um mergulho com o tal de barrete e o barrete se desmanchar todo, Ibirapu tirou um colar de conchinhas e deu para um homem branco. O tal do anotaperovás.

*

Mal sabia eu, naquele dia, que aquela troca de presentes era o começo da extinção de uma população hoje estimada em mais de 8 milhões de índios.

*

Anhangá – Aí eles fizeram sinal para a gente ir com eles até o barco grande.

A gente ficou com medo.

*

Anhangá – O que vocês acham?

Anhangué – Acho que não tem perigo, não. Eles são muitos bobos.

Ibirapu – Sei não. Aquele que fica fazendo rabisquinho me olha de um jeito muito esquisito. E se a gente for até lá e eles levarem a gente embora? Pra dentro do mar?

Anhangué – E as mandiocas? Vou acabar apanhando das minhas nove mulheres!

Após análise e estudo iniciamos em sala o primeiro ensaio de como escrever crônica...E os trabalhos abaixo são resultados da primeira fase do nosso projeto.

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