segunda-feira, 29 de outubro de 2007
9º ao 14º Dia Do Projeto
Analisamos em classe os assuntos cotidianos presentes nas crônicas.Juntamente com os alunos identificamos elementos utilizados pelo autor ao escrever, como a escolha das palavras,jogo de linguagem, estrutura dos parágrafos,conjunções e etc...
Já nesta semana os alunos se familiarizaram mais com este gênero e já conseguiam identificá-lo com mais precisão.
Cartazes - Crônica Visual
Após estudarmos a crônica "E tudo mudou" os alunos tiveram como desafio uma proposta de crônica visual. Cada grupo desenhou ou fez colagem de imagens para representar suas idéias. O trabalho resultou em reflexões sobre a relação passado, presente e futuro (as tecnologias, invenções) e como toda essa modernidade nos beneficia ou prejudica. E nessa fase do projeto encerramos com a leitura da crônica "Vivendo e...", também do Luís F. Veríssimo.
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
Crônica de Luís Fernando Veríssimo
Conversa entre o pai e o filho, por volta do ano de 2031 sobre como as mulheres dominaram o mundo.
- Foi assim que tudo aconteceu, meu filho...
Elas planejaram o negócio discretamente, para que não notássemos.
Primeiro elas pediram igualdade entre os sexos. Os homens, bobos, nem deram muita bola para isso na ocasião. Parecia brincadeira. Pouco a pouco, elas conquistaram cargos estratégicos: Diretoras de Orçamento, empresárias, Chefes de Gabinete, Gerentes disso ou daquilo.
- E aí, Papai?
- Ah, os homens foram muito ingênuos. Enquanto elas conversavam ao telefone durante horas a fio, eles pensavam que o assunto fosse telenovela...
Triste engano. De fato, era a rebelião se expandindo nos inocentes intervalos comerciais. "Oi querida!", por exemplo, era a senha que identificava as líderes.
"Celulite" eram as células que formavam a organização.
Quando queriam se referir aos maridos, diziam "o regime".
- E vocês? Não perceberam nada?
- Ficávamos jogando futebol no clube, despreocupados.
E o que é pior: continuávamos a ajudá-las quando pediam. Carregar malas no aeroporto, consertar torneiras, abrir potes de azeitona, ceder a vez nos naufrágios.
Essas coisas de homem. Aí, veio o golpe mundial !?
Sim o golpe. O estopim foi o episódio Hillary-Mônica. Uma farsa. Tudo armado para desmoralizar o homem mais poderoso do mundo. Pegaram-no pelo ponto fraco, coitado. Já lhe contei, né? A esposa e a amante, que na TV posavam de rivais
eram, no fundo, cúmplices de uma trama diabólica.
Pobre Presidente... Como era mesmo o nome dele?
William, acho.
Tinha um apelido, mas esqueci... Desculpe, filho, já faz tanto tempo...
- Tudo bem, Papai. Não tem importância. Continue...
- Naquela manhã a Casa Branca apareceu pintada de cor-de-rosa. Era o sinal que as mulheres do mundo inteiro aguardavam. A rebelião tinha sido vitoriosa!
Então elas assumiram o poder em todo o planeta.
Aquela torre do relógio em Londres chamava-se Big-Ben, e não Big-Betty, como agora... Só os homens disputavam a Copa do Mundo, sabia? Dia de desfile de moda não era feriado.
Essa Secretária Geral da ONU era uma simples cantora.
Depois trocou o nome, de Madonna para Mandona...
- Pai, conta mais...
- Bem filho... O resto você já sabe. Instituíram o Robô-Troca-Pneu como equipamento obrigatório de todos os carros... a Lei do Já-Prá-Casa, proibindo os homens de tomar cerveja depois do trabalho... E, é claro, a famigerada semana da TPM, uma vez por mês...
- TPM ???
- Sim, TPM... A Temporada Provável de Mísseis... É quando elas ficam irritadíssimas e o mundo corre perigo de confronto nuclear....
- Sinto um frio na barriga só de pensar, pai...
- Sssshhh! Escutei barulho de carro chegando. Disfarça e continua picando essas batatas...
Crônica de Luís Fernando Veríssimo
E tudo mudou...
O rouge virou blush
O pó-de-arroz virou pó-compacto
O brilho virou gloss
O rímel virou máscara incolor
A Lycra virou stretch
Anabela virou plataforma
O corpete virou porta-seios
Que virou sutiã
Que virou lib
Que virou silicone
A peruca virou aplique, interlace, megahair, alongamento
A escova virou chapinha
"Problemas de moça" viraram TPM
Confete virou MM
A crise de nervos virou estresse
A chita virou viscose.
A purpurina virou gliter
A brilhantina virou mousse
Os halteres viraram bomba
A ergométrica virou spinning
A tanga virou fio dental
E o fio dental virou anti-séptico bucal
Ninguém mais vê...
Ping-Pong virou Babaloo
O a-la-carte virou self-service
A tristeza, depressão
O espaguete virou Miojo pronto
A paquera virou pegação
A gafieira virou dança de salão
O que era praça virou shopping
A areia virou ringue
A caneta virou teclado
O long play virou CD
A fita de vídeo é DVD
O CD já é MP3
É um filho onde éramos seis
O álbum de fotos agora é mostrado por email
O namoro agora é virtual
A cantada virou torpedo
E do "não" não se tem medo
O break virou street
O samba, pagode
O carnaval de rua virou Sapucaí
O folclore brasileiro, halloween
O piano agora é teclado, também
O forró de sanfona ficou eletrônico
Fortificante não é mais Biotônico
Bicicleta virou Bis
Polícia e ladrão virou counter strike
Folhetins são novelas de TV
Fauna e flora a desaparecer
Lobato virou Paulo Coelho
Caetano virou um chato
Chico sumiu da FM e TV
Baby se converteu
RPM desapareceu
Elis ressuscitou em Maria Rita?
Gal virou fênix
Raul e Renato,
Cássia e Cazuza,
Lennon e Elvis,
Todos anjos
Agora só tocam lira...
A AIDS virou gripe
A bala antes encontrada agora é perdida
A violência está coisa maldita!
A maconha é calmante
O professor é agora o facilitador
As lições já não importam mais
A guerra superou a paz
E a sociedade ficou incapaz...
... De tudo.
Inclusive de notar essas diferenças
3º ao 8º Dia do Projeto...
O descobrimento do Brasil: eu vi! Na próxima semana, chega às livrarias o meu
Em tempo: Leonardo, que aparece abaixo, é o doutor Leonardo Ramos, psiquiatra e psicanalista com quem fiz as sessões.
*
Anhangá – Eu havia saído antes do sol com meu irmão Anhangué e meu primo Ibirapu para ir até as mandiocas. As mulheres queriam fazer farinha. Fomos pelo caminho da praia. Estava um dia muito bonito, o sol forte. Um vento bom.
Leonardo – Como vocês estavam vestidos?
Anhangá – Como sempre. Nada no corpo. Só pintura. Nus.
Leonardo – Como você se pintavam?
Anhangá – Com urutum vermelho. A gente tirava da semente da planta. Bom para proteger do sol e da picada de insetos e mosquitos. Me deixa continuar.
Estou vendo a cena muito bem. O sol já estava quase que inteiro sobre as nossas cabeças, quando eu olhei para o mar e vi. Vi aquilo.
*
Anhangá – Anhangué, olha aquilo!
Ibirapu – O que é aquilo?
Anhangué – Que canoa grande, irmão!
Anhangá – São muitas. Mais de duas mãos inteiras.
Ibirapu – Duas mãos e mais um dedo!
Anhangá – De onde é que saiu isso? Será que é coisa que vem de dentro do mar? Coisa do mau espírito?
Ibirapu – Vamos fugir daqui! Vamos buscar mais gente.
Anhangá – Calma! Estou achando que está para acontecer alguma coisa muito importante. Vamos ficar atentos.
*
Anhangá – Foi quando uns deles vieram numa canoa pequena até a praia. A gente se aproximou. E começamos a rir na cara deles. A gente era três, eles eram uns dez na canoa. E a gente rindo deles. Tinha um, o mais engraçado, com jeito de mulher, que ficava o tempo todo rabiscando uns risquinhos num papel. Tudo que a gente fazia, ele fazia risquinhos, desenhinhos. Mas parecia mulherzinha. Os outros, toda hora olhando para ele, diziam:
anotaperovás!
Leonardo – Como?
Anhangá – Anotaperovás.
Leonardo – Ah.... Anota, Pero Vaz.
Anhangá – Isso. E a gente rindo, o Anhangué deitava no chão de tanto rir.
Leonardo – Rir? Do quê?
Anhangá – Dos panos que eles usavam em cima do corpo. Tinham o corpo todo coberto de pano. Aquele sol, eles savam. Brancos. Branco queimado, meio avermelhado. Difuerente. Falavam coisas que a gente não entendia. E como fediam! Que cheiro horrível aqueles homens brancos tinham! Acho que não tomavam banho havia várias luas.
Leonardo – E vocês se comunicaram como?
Anhangá – O homem branco, que parecia ser o chefe, fez sinal com a mão para a gente colocar os arcos e as flechas na areia. A gente olhou um para o outro, homem branco fez cara de homem bom. Sorriu. Senti que eles tinham medo de nós. Eu disfarçava, mas também tinha medo. Pensei nas minhas mulheres, nos filhos... Colocamos os arcos e as flechas na areia. Cada um de nós estava com sete flechas. O homem se aproximou, tirou uma coisa da cabeça e falava "barrete, barrete, barrete" e colocou na cabeça do Ibirapu, que ficou muito engraçado. Começamos a rir dele, os homens brancos também.
Ibirapu começou a dançar e a pular feito um menino. Rimos muito. Todos.
Depois de
*
Mal sabia eu, naquele dia, que aquela troca de presentes era o começo da extinção de uma população hoje estimada em mais de 8 milhões de índios.
*
A gente ficou com
*
Anhangué – Acho que não tem perigo, não. Eles são muitos bobos.
Ibirapu – Sei não. Aquele que fica fazendo rabisquinho me olha de um jeito muito esquisito. E se a gente for até lá e eles levarem a gente embora?
Anhangué – E as mandiocas? Vou acabar apanhando das minhas nove mulheres!
Após análise e estudo iniciamos em sala o primeiro ensaio de como escrever crônica...E os trabalhos abaixo são resultados da primeira fase do nosso projeto.quarta-feira, 17 de outubro de 2007
Descobrimento do Brasil...O marinheiro
Quando cresceu finalmente realizou seu sonho ele se tornou marinheiro com sua tripulação foi em busca de aventuras e grandes descobertas, Cabral viajou com sua tripulação durante 30 dias e ao seu redor só se via água e a comida já estava acabando então Cabral avistou uma ilha. Ele tinha ouvido muitas histórias que na ilha havia monstros, tesouros e outras coisas por isso Cabral ficou com medo de parar o navio lá, mas seus tripulantes estavam com fome e queriam parar.Cabral estava com medo mas tinham que parar. Ao desenbarcarem no meio do mato ele viu pessoas sem roupas e cheirando mau e falando línguas diferentes. Cabral não entendia o que eles falavam mas por fim ficou amigo dos índios,mas os índios viram que eles estavam com fome e foram buscar alimentos,eles passaram a noite lá e logo de manhã foram passear em vários lugares e descobriram:Animais nunca visto por portugueses,aves e foi então que descobriram uma Arvore Muito famosa pelos índios e os portugueses deram um nome de Pau-Brasil,mas Cabral viu que quem habitava era só os Índios ele viu que ninguém morava lá e então foi nomeada BRASIL!!!
ALUNAS: Sophia Piskorski, Ana Caroline Antonini,Brenda Gabrielle,Letícia de Melo
A caminhada pelo mar
Começando a rota pelo mar eu olhei o astrolábio;chegando ao amanhecer viam lá em cima do lugar mais alto do barco,e gritavam:
-TERRA A VISTA!!!
Mal chegamos e pela cara dele não tinha medo da tripulação,quando Pedro Alvares Cabral fez um sinal e eles entenderam!
Quando Pedro pisou em terra firme ja entregaram uns presente para ele.
O descobrimento do Brasil...O Guarda Chefe
Documento de 1500
- Que foi Lucas?
- Eu estava mexendo no sótão e achei um documento do meu tataratataratatara e mais alguns tataravôs que viveu em 1500.
- Puta, que da hora! O que tava escrito?
- Tava escrito o seguinte:ano 1500. Não sei o dia mais estou a muito tempo em um navio de um tal Pedro Álvares Cabral. Sou um clandestino. Quando o navio parou, eu sai de onde estava escondido e vi que a tripulação saiu do navio e foi até onde estavam umas pessoas nuas. Eles falaram entre si e voltaram ao navio.eu pulei quando eles estavam subindo, nadei até a terra e depois entrei na floresta.
- O que aconteceu depois Lucas?
- Ele encontrou uma aldeia e se apaixonou por uma bela mulher chamada Yumalay. Eu aprendi rápido a linguagem deles, suas crenças e seus costumes. Depois de um tempo, os portugueses vieram à aldeia e destruirão tudo, mataram as mulheres e escravizaram os índios. Escapei, mais Yumalay morreu. Fiquei vagando pela floresta por muito tempo até que encontrei uma cidade pequena, com poucas casas feitas e algumas sendo construídas. Roubei roupas, porque estava nu e conheci uma mulher muito linda, igual a Yumalay, seu nome era Vitória e nos casamos. Depois... Acabou.
- Como acabou Lucas? Ainda tem o depois. O que aconteceu? Se esqueceu?
- Não. Depois disso o documento estava danificado; não dava mais para ler.
- Ossa, que mancada! Falou então Lucas.
- Falou Pedro.
Descobrimento do Brasil e as Três Mulheres
Ao chegarmos lá encontramos vários índios nus, eles se assustaram com a nossa presença. Mal sabíam eles que eramos nós que assustamos.
Nossa chegada à essa ilha foi no dia 22/04/1500.
Após duas horas de caminhada, encontramos Pedro Àlvares Cabral...que nos contou como foi a sua chegada ao Brasil e a sua descoberta à essa Iha.
No decorrer de nossa conversa, ele nos contou que havía batizado essa maravilhosa Ilha com o nome de Monte Pascoal.
♥Talita B.
♥Thais.
♥Sara.
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
A CRONICA PERDIDA
terça-feira, 9 de outubro de 2007
O Descobrimento do Brasil
arcos e flechas.Os portugueses estavam armados com armas de fogo e começaram a guerra com os índios.
Os índios atiraram de arco e flechas , mas muitos morreram.E assim descobriram a ilha e os portugeses se apossaram dela...eles pensaram muito e colocaram o nome de Brasil.O Brasil ficou mais moderno e fizeram muitas outras descobertas como os aviões e os aparelhos.
Descoberta do Brasil...Os índios
Descobrimento do Brasil e as Quatro Mulheres
Éramos quatro esposas de tripulantes e podíamos viajar com os nossos maridos.
Foi numa manhã de 22/04/1500 que saímos em busca de tesouros perdidos.
Quando lá na frente avistava-se um barco em que estava Pedro Álvares Cabral, cujo ,homem era amigo de nossos maridos.
Foi quando chegamos em uma ilha que tinha vários índios , e assim foi declarado TERRA DE MONTE PASCOAL após algum tempo foi decretada BRASIL.
♥Nome:Angélica nº 4
♥Nome:Camila nº 8
♥Nome:Carolina nº 10
♥Nome:Jaqueline nº 22
♥Nome: Larissa nº 28
Descobrimento do Brasil...Quem?
E vieram mais cinco índios. Quando chegaram a beira da praia, desceram do grande objeto e tentaram se comunicar com nós. Mas não conseguiram por que eles falavam estranho e se vestiam engraçado.
Então tentamos nos comunicar de outro jeito fazendo mímicas, mas eles olhavam sem entender o que nós estávamos fazendo. Depois eles ficavam parados observando; somente um tempo depois perceberam o que estávamos tentando dizer.
Eles fizeram um gesto estranho tipo tentando dizer, quem são vocês?
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
2º Dia do Projeto: O primeiro cronista "Pero Vaz de Caminha"
(Pero Vaz de Caminha) | |
Trecho 1
Senhor,
posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova, que se agora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que -- para o bem contar e falar -- o saiba pior que todos fazer!
Todavia tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual bem certo creia que, para aformosentar nem afear, aqui não há de pôr mais do que aquilo que vi e me pareceu.
Da marinhagem e das singraduras do caminho não darei aqui conta a Vossa Alteza -- porque o não saberei fazer -- e os pilotos devem ter este cuidado.
E portanto, Senhor, do que hei de falar começo:
E digo que:
A partida de Belém foi -- como Vossa Alteza sabe, segunda-feira 9 de março. E sábado, 14 do dito mês, entre as 8 e 9 horas,nos achamos entre as Canárias, mais perto da Grande Canária. E ali andamos todo aquele dia em calma, à vista delas, obra de três a quatro léguas. E domingo, 22 do dito mês, às dez horas mais ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo Verde, asaber da ilha de São Nicolau, segundo o dito de Pero Escolar, piloto.
Na noite seguinte à segunda-feira amanheceu, se perdeu da frota Vasco de Ataíde com a sua nau, sem haver tempo forte ou contrário para poder ser !
Fez o capitão suas diligências para o achar, em umas e outras partes. Mas... não apareceu mais !
E assim seguimos nosso caminho, por este mar de longo, até que terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra, estando da dita Ilha -- segundo os pilotos diziam, obra de 660 ou 670 léguas -- os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, e assim mesmo outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam furabuchos.
Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz!
Mandou lançar o prumo. Acharam vinte e cinco braças. E ao sol-posto umas seis léguas da terra, lançamos ancoras, em dezenove braças -- ancoragem limpa. Ali ficamo-nos toda aquela noite. E quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos em direitura à terra, indo os navios pequenos diante -- por dezessete, dezesseis, quinze, catorze, doze, nove braças -- até meia légua da terra, onde todos lançamos ancoras, em frente da boca de um rio. E chegaríamos a esta ancoragem às dez horas, pouco mais ou menos.
E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos que chegaram primeiro.
Então lançamos fora os batéis e esquifes. E logo vieram todos os capitães das naus a esta nau do Capitão-mor. E ali falaram. E o Capitão mandou em terra a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou a ir-se para lá, acudiram pela praia homens aos dois e aos três, de maneira que, quando o batel chegou à boca do rio, já lá estavam dezoito ou vinte.
Trecho 2
Terça-feira, depois de comer, fomos em terra, fazer lenha, e para lavar roupa. Estavam na praia, quando chegamos, uns sessenta ou setenta, sem arcos e sem nada. Tanto que chegamos, vieram logo para nós, sem se esquivarem. E depois acudiram muitos, que seriam bem duzentos, todos sem arcos. E misturaram-se todos tanto conosco que uns nos ajudavam a acarretar lenha e metê-las nos batéis. E lutavam com os nossos, e tomavam com prazer. E enquanto fazíamos a lenha, construíam dois carpinteiros uma grande cruz de um pau que se ontem para isso cortara. Muitos deles vinham ali estar com os carpinteiros. E creio que o faziam mais para verem a ferramenta de ferro com que a faziam do que para verem a cruz, porque eles não tem coisa que de ferro seja, e cortam sua madeira e paus com pedras feitas como cunhas, metidas em um pau entre duas talas, mui bem atadas e por tal maneira que andam fortes, porque lhas viram lá. Era já a conversação deles conosco tanta que quase nos estorvavam no que havíamos de fazer.
E o Capitão mandou a dois degredados e a Diogo Dias que fossem lá à aldeia e que de modo algum viessem a dormir às naus, ainda que os mandassem embora. E assim se foram.
Enquanto andávamos nessa mata a cortar lenha, atravessavam alguns papagaios essas árvores; verdes uns, e pardos, outros, grandes e pequenos, de sorte que me parece que haverá muitos nesta terra. Todavia os que vi não seriam mais que nove ou dez, quando muito. Outras aves não vimos então, a não ser algumas pombas-seixeiras, e pareceram-me maiores bastante do que as de Portugal. Vários diziam que viram rolas, mas eu não as vi. Todavia segundo os arvoredos são mui muitos e grandes, e de infinitas espécies, não duvido que por esse sertão haja muitas aves!
E cerca da noite nós volvemos para as naus com nossa lenha.
Trechos da Carta.Fonte: Carta a El Rei D. Manuel, Dominus : São Paulo, 1963.Pintura Trecho 2 de Rodrigues, Glauco Carta de Pero Vaz de Caminha - 26 de Abril de 1500 , 1971
acrílica sobre tela, c.i.d.
81 x 100 cm
terça-feira, 2 de outubro de 2007
1º Dia do Projeto - Conhecendo o Universo das Crônicas
O que é Crônica? Eis algumas definições...
CRÔNICA
[Do lat. chronica]
S.f. 1. Narração histórica, feita por ordem cronológica.
4. Pequeno conto, de enredo indeterminado.
(Novo Dicionário Aurélio)
CRÔNICA - Atualmente, é um gênero literário que explora qualquer assunto, principalmente os temas do cotidiano. Geralmente escritas para serem publicadas em jornais e revistas — que, mais tarde, podem ou não ser reunidas em livro — a crônica se caracteriza pelo tom humorístico ou crítico.
(Enciclopédia Encarta 2000 - Microsoft®)
A crônica não é literatura, e sim subproduto da literatura, e está fora do propósito do jornal. A crônica é subliteratura que o cronista usa para desabafar perante os leitores. O cronista é um desajustado emocional que desabafa com os leitores, sem dar a eles oportunidade para que rebatam qualquer afirmativa publicada. A única informação que a crônica transmite é a de que o respectivo autor sofre de neurose profunda e precisa desoprimir-se. Tal informação, de cunho puramente pessoal, não interessa ao público, e portanto deve ser suprimida.
(Rubem Braga)
A crônica se destina a publicação em jornal ou revista. Por isso mesmo, já se pode deduzir que deve estar relacionada com acontecimentos diários. Se diferencia evidentemente da notícia, pois não é feita por um jornalista e sim por um escritor, mas se aproxima de sua forma. É o acontecimento diário sob a visão criativa do escritor. Seus personagens podem ser reais ou imaginários. Não é mera transcrição da realidade, mas sim uma visão recriada dessa realidade por parte da capacidade lírica e ficcional do autor. Normalmente, por se basear em fatos do cotidiano, ela tende a se desatualizar com o passar do tempo. Nem por isso deixa de perder seu sabor literário quando agrupamos um conjunto delas em um livro. O cronista é essencialmente um observador, um espectador que narra literariamente a visão da sociedade em que vive, através dos fatos do dia a dia.
(Airo Zamoner)