quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Crônica Mário Prata


Isso é time que se apresente?
Dentro do desastre contínuo que vem sofrendo o futebol brasileiro, surge mais uma coisa absurda: o nome dos jogadores. Como se não bastassem os larápios, amadores e suados cartolas, como se não bastassem os técnicos dentro de campo gritando palavrões de terno e gravata, agora os nomes dos novos craques. Resolvi, neste fim de semana, dar uma olhadinha nas escalações dos nossos melhores times. Os que disputam o Rio-São Paulo e a Sul-Minas.

Tudo muda, inclusive no futebol. Na seleção de 58, todos tinham apelidos carinhosos: Zito, Didi, Pepe, Pelé, Vavá, Dida. Eram meninos, com nome de meninos. E, para esculhambar, tinha um Garrincha, nome de passarinho. Depois vieram os nomes duplos. Vários Rogérios alguma coisa. Vários Fábios alguma coisa. Marcos e mais outro nome. César e etc.

Agora a coisa endoidou. Fico imaginando um pai e uma mãe chamando o bebê de Kléberson. Não pode, gente. E Claudecir? O padre deve ter engasgado na hora do batismo.

Mas vejam alguns dos jogadores que atuaram no fim de semana pelos gramados brasileiros.

Na letra A, de Ademir da Guia, de Alfredo, de Augusto, hoje encontramos um Adaílton, um Anaílson, um Ayupe e, pasmem!, um Allan Delon (aliás, emérito artilheiro baiano, só que feio para chuchu). E o Abimael, que levou o Figueirense para a primeira divisão emprestado pelo Gamma. Abimael! Tente guardar esse nome.

No B, onde já brilharam Bellini e Bazzani, hoje temos um Bagnara, um Bóvio, é óbvio, e um forte Ben Hur. Como é que uma mãe pode fazer uma sacanagem dessa, colocando o nome do filho de Ben Hur?

Carlos Alberto Torres, o grande capitão do tri, está acompanhando pelo Canindé (que não é o estádio da Lusa), pelo Cicinho. E tem mais o Claudecir (deve ser mistura do nome do pai com a mãe, não é possível), um Clayrton (com y, para mais elegância) e um bom goleiro que recebeu na pia batismal o nome de Clemer.

Didi e Dario Peito de Aço, Del Vecchio e Dudu, jamais jogariam num time que tem no gol um indivíduo chamado Danrlei, de pronúncia difícil e belas defesas. E o Deivid, gente, escrito assim mesmo? Quer mais? Tem um Dedimar. Não consigo captar como é que inventam um nome destes: Dedimar.

Edson Arantes do Nascimento, Eder e Edu, têm um companheiro na ponta-esquerda que atende pelo nome de Euller. Mas a letra E é pródiga: tem até um Elano (e joga bem, o danadinho). Temos Elivelton e Erivelton. Sem falar no Emerson e no Ewerton. Já notou como mãe de jogador gosta de um on ou um son no fim? Roberto DaMatta explica? E o Elson? Esqueceram a letra N?

No F, de Falcão, temos até Fumaça. Surge um Fransérgio. Mas o campeão aqui é o Fael. Deve ser sigla de alguma coisa tipo Fábrica de Armas Elétricas Ltda. Ou coisa que o valha.

G, de Goiano e Garrincha, G de Germano, de Gallardo, vem logo com um Gavião pra impor respeito. Mas é seguido de perto pelo Géder e por outro goleiro, Gleguer (tente pronunciar alto).

No J, de Julinho Botelho (isso, sim, é nome de jogador) temos vários sons: Jackson, Jadílson (esse garoto promete) e Jaílson. Fora o Jamir que deve ser parente do Salim Maluf. E o Jussiê? Dossiê do Juscelino?

Se na letra K está nascendo um Kaká, surge também um Kléberson que, espero, nos ajude a trazer o penta.

O L, de Laércio, de Luis Pereira e de Leivinha, se nos apresenta com um Laílson e um Liédson. Gente, eu estou impressionado com o final dos nomes em son. Será que o Laílson é filho do Laíl, e o Líedson do Liéd? Jamais saberemos.

Mabília, Máicon e Marlon.

Você pode até não acreditar, mas o Odvan (ex-Vasco, agora no Santos) tem este nome porque a mãe dele era apaixonada pela música O Divã, do Roberto Carlos, deus nos jornais. Logo no O, de Oberdan e Orlando Peçanha.

Pelica, Pingo, Preto (numa letra que foi de Pagão, Pelé e Pepe), Ratinho e Recife até quepara agüentar. Mas o que você me diz de Sairo, Selmir e Simplício?

O Túlio sumiu, mas surgiram o Taílson e o Tucho.

E de quem foi a idéia de colocar o nome de Váldson no menino? Parece coisa de avó. E Valnei?

E, para encerrar, Wellerson, mais um filho de.

Esses, meus amigos, são os nossos craques do futuro. Dá pra confiar?

(O estado de s. paulo - 20/03/2002)


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